Projeto da Seleon busca aumentar a fertilidade na IATF
Estudo científico
tem como objetivo elevar a taxa de prenhez à IATF para além da média geral de
50%
Em parceria com a
Embrapa Rondônia, a Seleon Biotecnologia, de Itatinga, SP, vem desenvolvendo,
por meio de análises laboratoriais e estudo prático a campo, uma nova
metodologia para elevar a fertilidade das matrizes submetidas à Inseminação
Artificial em Tempo Fixo, dentro do conceito da “IATF de Precisão”. Tal projeto
foi apresentado na última reunião anual da Sociedade Brasileira de Tecnologia
de Embriões (SBTE), promovida em agosto do ano passado, em Florianópolis, SC.
“Nosso projeto foi
muito bem recebido pela comunidade científica do evento e ficou entre os quatro
melhores trabalhos da Área Aplicada. Isto foi muito gratificante, pois buscamos
justamente soluções que possam ser rapidamente absorvidas e aplicadas com
sucesso no trabalho de campo”, conta, entusiasmado, o médico veterinário José
Roberto Potiens, diretor técnico da Seleon Biotecnologia e um dos responsáveis
pelo experimento.
Trata-se de um
trabalho científico que buscou associar características específicas de
cada partida de sêmen com as condições ovulatórias individuais de vacas no
período pós-parto. Essa nova metodologia difere totalmente das maneiras
convencionais de avaliações relacionadas à fertilidade, que procuram analisar
isoladamente o potencial do macho e da fêmea em programas de IATF.
“Batemos na média
histórica de aproximadamente 50% de prenhez em IATF há uns dez anos, e, desde
então, não evoluímos deste patamar. Daí a necessidade de encontrarmos novas
alternativas para elevar essa taxa de gestação”, justifica Potiens.
Segundo o diretor
técnico da Seleon, a despeito dos vários fatores que podem afetar os resultados
finais da IATF, é possível estimar com maior segurança o potencial de
fertilidade das fêmeas quando as características do sêmen e a resposta ovariana
são consideradas conjuntamente, em um processo de sintonia fina.
Neste sentido,
continua Potiens, o trabalho com a Embrapa mostrou ser possível aumentar a
fertilidade de vacas submetidas à IATF por meio da associação entre o grau de
hiperativação espermática (partidas de sêmen com maior ou menor velocidade de
movimentação) e o momento estimado da ovulação da fêmea.
O estudo de campo
feito pela Embrapa Rondônia, sob a supervisão do pesquisador Luiz Francisco
Machado Pfeifer, desenvolveu-se no sentido de validar este trabalho teórico realizado
previamente em laboratório pela Seleon, que dispõe de equipamentos ultramodernos
para análises e armazenamento de dados referentes às partidas de sêmen.
Para realizar o
experimento, a Embrapa considerou primeiramente dados de 46 lotes de sêmen de 20
touros diferentes, que passaram pelo centro de coleta e processamento da
Seleon, em Itatinga. Com este material genético em mãos, verificou-se, por meio
do Sistema Casa (Análise Computadorizada da Cinética Espermática), algumas
variáveis importantes, tais como características espermáticas de velocidade
curvilínea (VCL), amplitude de deslocamento lateral da cabeça (ALH) e
linearidade (LIN).
A partir desta
análise, foram selecionados para o estudo de campo apenas partidas de sêmen de
dois touros, justamente aqueles que apresentaram características distintas,
classificados como hiperativados (H +) e não hiperativados (H-).
Por sua vez, o
estudo contou com a participação de 346 vacas multíparas Nelore, todas elas
submetidas ao protocolo de IATF. Assim como o material genético dos dois
touros, antes da inseminação, as fêmeas também foram classificadas de acordo
com o status do folículo pré-ovulatório no momento da sincronização (tratamento
hormonal). Para essa análise, considerou-se as seguintes premissas: vacas que
apresentam folículos maiores, tendem a ovular precocemente; vacas com folículos
pequenos, tendem a ovular tardiamente.
Desse modo, no Dia
10 do protocolo de IATF, todas as vacas foram avaliadas por ultrassonografia
transretal e classificadas de acordo com a avaliação do diâmetro do folículo
pré-ovulatório (POF), resultando em dois grupos distintos: das vacas de
ovulação precoce e de ovulação tardia. “A medição dos folículos foi aplicada dentro de um
modelo criado pelo pesquisador Pfeifer para correlacionar tamanho do folículo
com estimativa do momento da ovulação”, explica Potiens.
Resultados:
Os dados de campo
que a Embrapa colheu até o momento demonstraram que vacas com folículos
pré-ovulatórios menores (grupo de ovulação tardia - OT) têm menor probabilidade
de emprenhar quando são inseminadas com sêmen hiperativados (H +). Em contrapartida,
quando inseminadas com espermatozoides não hiperativados (H-), esse mesmo grupo
tende a obter êxito nos protocolos de IATF.
Segundo informa Potiens, tendo como base os resultados de IATF do experimento da
Embrapa, as vacas com ovulação tardia (OT) registraram taxa de prenhez de 72,7%
(48 gestações em 66 matrizes do protocolo) quando inseminadas com sêmen menos
ativado (H-). Em contraste, o grupo de matrizes de ovulação tardia inseminadas
com sêmen hiperativado (H+) apresentou taxa de prenhez de apenas 52,1% (50
gestações em 96 fêmeas do protocolo).
“O experimento da Embrapa comprovou a hipótese
inicial, de que, para as vacas com ovulação tardia, o ideal é utilizar um sêmen
metabolicamente menos ativado, ou seja, com menos vigor de movimentação e gasto
energético, porque quando essa fêmea, enfim, conseguir ovular, o sêmen ainda
estará viável para a fertilização”, explica o diretor técnico da Seleon.
Os resultados já obtidos com o
experimento fazem parte de um projeto maior que a Seleon e a Embrapa estão
desenvolvendo, sendo que os próximos passos visam avaliar alternativas mais
práticas para selecionar as fêmeas conforme o potencial de ovulação.